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quinta-feira, 20 de abril de 2017

A Metamorfose, meio acadêmico literário | perculiaridades e compreensão (rasa, porém importante) do dever da análise literária

Sei que estou mais do que em falta, não só pelo gigante hiatus entre esta postagem e a última, como também sobre o conteúdo que trago aqui. A ex última publicação que falava sobre o mundo das fanfics – já deletada – além de estar mal estruturada para a página, não trazia um conteúdo bom e claro. Peço perdão por isso.


Foi na releitura de meu ex último post e nas várias ideias de escrever para o blog que me redefini quanto conteúdo autoral do mesmo: ou escrevo sobre o que achei dos livros que li ou posto alguns escritos meus, ponto. Se alguma outra coisa do meio da literatura – ou até fora disso, quem sabe? – for interessante o suficiente para mim e para você – deixe nos comentários sobre o que você quer ler, é sempre bem-vinda uma opinião diversa – redigirei sobre. Desta vez, mais detalhadamente e melhor escrita. Prometo.

Fonte: In-justificado

Todo escritor – ou aspirante a tal, peço perdão pela licença não registrada em minha carteira de trabalho – tem seus problemas com criatividade e inspiração. Não é todo mundo que tem ideias geniosas o tempo todo, e para a vida da universitária que vos fala, absorver o mundo e meu campo das ideias, a fim de espremê-los todos e colocar isso em um papel está sendo deveras complicado. É o tal do bloqueio criativo que me parece estar feliz em conviver comigo por quase um ano e uns quebrados. Aproveito os poucos momentos, como este, em que percebo a trégua, para só então colocar a mão na massa. Se tratando de leitura então, pior ainda! Somente textos teóricos me são engolidos ferozmente. De resto, não há tempo para o meu deleite literário.

Contudo, resolvi abrir uma brecha dentre minhas várias leituras programadas para esse ano – quase todas estão no meio, disso parece que não consigo sair (risos) – e resolvi anexar uns livrinhos bem peculiares. Para quem não sabe – e para quem não leu minha descrição logo ao lado, - eu curso Letras Bacharelado com ênfase em estudos literários. A teoria da literatura, por mais óbvio que seja dizê-lo, me é fundamental. Uma coisa que gosto bastante nesse campo é a forma como a teoria é muito bem servida de exemplos, e são esses exemplos que me intrigam bastante, por serem além de muito falados e estudados, novos para mim. Sabe como é: você ouve falar da coisa, mas não procura ler a coisa. Vejam bem: o ramo da literatura caiu em meu colo nos meados dos meus 10, 11 anos. Até lá, meu conhecimento de mundo era tão restrito e mínimo, e nem sequer se passava por mim isso de me ater a ler clássicos consagrados, etc. Quando se tem 10 anos, qualquer aventura não muito complicada já é uma baita história.

Minha expansão de conhecimento de livros veio na minha época de vestibular, e está se intensificando com a faculdade, amém. Saí anotando cada autor dado como exemplo nas teorias para que eu pudesse ler todos assim que desse. Logo menos, teremos Balzac aparecendo por aqui também. Entre os tantos e tantas, estava Kafka e um amigo de turma, o André, o qual insistiu que eu precisava entrar no mundo de A Metamorfose. Unindo o útil ao agradável, temos uma leitura “necessária” – não entendam mal as aspas, por favor – e fins e meios bem justificados.

Vou abrir um parêntese em relação a um dos pontos do título no meio do texto. Até lá, sigamos.


Fonte: Diário do Engenho
A Metamorfose é uma novela escrito pelo já citado – e muito bem falado, tanto pelo André quanto pelo meio acadêmico – Franz Kafka, este um austro-húngaro judeu. Chegou a fazer uns bicos – bons bicos, inclusive – como ilustrador e já chegou até a trabalhar em uma empresa de seguros - quem diria?

Já que não sou boa com resumos de enredo, eis a ajuda da querida demônia Wikipédia: Em resumo, nesta obra de Kafka, ele descreve um caixeiro viajante que abandona suas vontades e desejos para sustentar a família e pagar a dívida dos pais, tendo o nome de Gregor Samsa. Numa certa manhã, Gregor acorda metamorfoseado em um inseto monstruoso.

A partir daí, a narração gradativa vai te colocando a par de como é esta – dã – metamorfose, já que ele não vira simplesmente um bicho da noite para o dia. É como se aos poucos, Gregor fosse perdendo a humanidade, tornando-se cada vez mais animal. O ponto de vista da família dele em relação a esse acontecimento é presença indispensável no texto. Temos aqui uma narrativa circular super bem amarradinha e muito, mais muito bem escrita. É daquelas que você simplesmente não consegue parar de ler, mesmo que o livro não te grude a atenção. O que me despertou um olhar mais delicado foi justamente essa mudança repentina. Imagine-se acordar totalmente transformado em um inseto gigante? Ahn, bom destacar que não se sabe direito que tipo de inseto é, já que ele se parece com uma barata em certos aspectos e com uma centopeia em outras. Será mesmo que aquilo teria acontecido? Era tudo da cabeça de Gregor Samsa? 

Personagem esse, inclusive, que tem o ponto de vista privilegiado na narrativa, ou seja, é super fácil de acreditar nele, de ter pena de sua situação, de recriminar os atos de todos os outros contra o pobre bicho. Detalhe que Gregor realmente me deixou abalada até o meio da narrativa, quando o caríssimo André me lembrou de algo muito importante: – e que logo eu, tão fã de Machado, havia me esquecido – desconfie. Analisando tudo o que foi feito por seus parentes, desde uma mãe traumatizada, degradada aos poucos pela ideia de estar perdendo seu filho para um evento sobrenatural bizarro, até uma irmã e um pai que do meio para o fim já estão convencidos de que Gregor tornou-se algo que não ele, não valendo mais a pena mantê-lo vivo e sobre o teto da família. Eu acabei o livro ainda tendo sérias dúvidas sobre essa questão do “aconteceu ou não?”. Tudo, no fim, é uma grande metáfora. Foi o que me pareceu, pelo menos.

Fonte: meu lugar no mundo. (eu adorei essa imagem!)
Não sei explicar ao certo, e isso talvez possa ser bastante contraditório já que a história é vista pelo ponto do sofredor da metamorfose, porém eu senti falta de mais partes em que os sentimentos da personagem ficassem mais evidentes, afinal, ele foi perdendo tudo aos poucos, desde o trabalho, o interesse da família, o sentido de viver. Eu vi muito mais narração dos fatos, por mais que eles falem por si só, certas vezes, do que a descrição da agonia, do que seria tão estranho aos olhos de Gregor. Não foi um enredo que me cativou, mas dou um juízo de valor positivo e imenso para a narrativa, para a fôrma literária de Kafka neste livro. Foi uma literatura que teve lá seu sentido para mim, principalmente depois da leitura, onde divaguei muito sobre a questão psicológica envolta da narrativa.

Para mim, A Metamorfose não foi lá "essas coisas". Para mim.

Não consigo descrever com precisão meus pensamentos justamente na parte do livro que mais me interessou, o psique. Penso que eu conseguiria detalhar muito melhor isso conversando contigo cara a cara, leitor, coisa que até poderia "acontecer" caso eu fizesse vídeos ao invés de textos. Ou fazer textos e vídeos sobre, lado a lado, sabe? Alguns já me deram essa sugestão, e é algo que estou a ponderar. Até lá, os comentários estão mais do que abertos para nos comunicarmos.

O que – surpreendam-se – me deixou mais abalada com o fim dessa narrativa foi o depois. Afinal, estou eu em um meio literário onde Kafka é um grande gênio, um consagrado, e falar mal dele poderia, de certo ponto de vista, diminuir-me nesse. Somente após muito refletir e até conservar com outros amigos sobre, além de lembrar-me de minhas maravilhosas aulas na cadeira de Análise de Textos Literários, é que, afinal de contas, esse é o trabalho de quem faz uma análise, coisa que eu tenho – muito amadoramente e em aprimoramento – tentado fazer, e como ainda não me sinto preparada e instruída o suficientemente para redigir uma super análise bem detalhada de obra A ou obra B, meus pontos comentados são bem mais na superfície do negócio. Dentre outros inúmeros aspectos, um dos principais para o feitor de análises é reconhecer a contribuição, inovação e questões de fôrma literária, de estilo, criatividade, etc, de uma obra, excluindo por parte a opinião pessoal disso. Kafka inovou as narrativas, já foi chamado de “O Dante do século XX”, inspirou um termo (kafkiano), recebe destaque até hoje na literatura por sua perspectiva e visão, e bem, se você leu o texto até aqui, percebeu que repeti “é considerado um grande gênio (e sinônimos) da literatura no meio acadêmico" mais de três vezes, até. Posso não ter curtido o embalo de A Metamorfose, mas posso certamente curtir outras de suas obras. Não abandonei o escritor, e saber separar sua importância da minha opinião, e em cima de somente uma única obra, já foi um grande avanço para mim mesma. Não é tão fácil quanto parece. Aqui o parênteses. 

Na análise literária, gosto pessoal se discute em outros níveis, em outros termos. 

Dei-me conta de que toda essa ideia de que se é preciso gostar de algo porque se todo mundo da área gosta, você tem que gostar também, é sem medir a língua, “mó ideia errada”. Engraçado como vamos descobrindo que nem tudo é como parece em realidade para qualquer campo que decidamos seguir.

É isso.

Conversem comigo nos comentários! Estou tentando avançar mais em minhas leituras a fim de trazer mais resenhas, análises, etc. Caso queiram me indicar livrinhos, também aceito sugestões!