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quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Magia, medievalismo e Lila Bard



Arte da capa americana. Fonte: Google
Um Tom Mais Escuro de Magia pertence à mente de V. E. Schwab, a qual não é pioneira quando se trata de escrever sobre fantasia. Venceu diversos prêmios em 2013 e 2014 com suas outras obras, além de ser muito elogiada por autores best-sellers do New York Times. Sua mais nova aposta no ramo da literatura fantástica veio para as terras brasileiras em meados de 2016, mais precisamente em agosto. Conquistou muitos fãs fora e dentro do Brasil, não em uma escala Harry Potter, mas sim um espaço caloroso no coração dos leitores, os quais se mostraram bastante satisfeitos. Em pequenas pesquisas feitas por mim em alguns blogs de literatura, as críticas são, em sua maioria, positivas. Gabriella, – maravilhosa! – a ponte que me ligou às 418 páginas desse livro, também não poupou elogios, além de tentar me deixar a par desse universo da literatura mais mágica, o qual confesso não ter tanta familiaridade.

O enredo já é audacioso e intrigante logo de cara: imaginem vários universos paralelos. Em cada universo desses, existe uma versão de Londres. Em Um Tom, a trama concentra-se em quatro: Londres Vermelha (a magia aqui pulsa com alegria e controle), Londres Cinza (há pequeninos resquícios de magia, mas o lugar, assim como o próprio nome, tornou-se fraco e sem vida. Na minha opinião, a Londres Cinza representa a Londres que nós conhecemos inserida naquela época), Londres Branca (a magia tomou posse de tudo e todos, transformando o lugar, o deixando poderoso, mas temido e hostil) e Londres Preta, a qual não existe mais. Em meio a tudo isso, deixando de lado alguns detalhes para que sua leitura seja o mais surpreendente possível, temos Kell.

Kell não é simplesmente um ser mágico comum. Ele é um Antari, que em explicação básica é alguém com um controle de magia e equilíbrio muito maior do que os outros, nascido com o propósito de “servir” ao rei e rainha de sua Londres em algumas tarefas que somente ele consegue executar. A personalidade deste vai sendo moldada de acordo com a narrativa, o que eu gostei deveras. Por dedução, se Kell é alguém que se destaca dos demais, poderíamos ter uma personalidade egocêntrica e muito chata aqui, o que é o contrário. Suas motivações e anseios o fazem ser humilde e compassivo, e tudo isso vai crescendo e transcendendo com o andamento das páginas.

A história começa a tomar forma quando Kell faz algo que não devia, deixando todas as Londres em grande perigo. Um artefato com magia negra e pulsante conseguiu viajar de um universo para o outro, o que é praticamente fatal e proibido. A carreira solo de herói do nosso Antari não é bem sucedida graças a entrada de uma personagem. Ou melhor, a personagem: Delilah “Lila” Bard.
Minha queda por personalidades femininas fortes pode ter ajudado altamente em meu julgamento da obra, contudo, é impossível ignorar a existência e importância de Lila à trama. Primeiramente, ela se encaixa – ao se encontrar com Kell – como protagonista também. Segundo, em vez de ser poderosíssima e cheia de magia para esbanjar por ai, a ladra “moleca” de rua não usufrui de nada disso, somente de sua astúcia, ironia, inteligência e ótima habilidade com facas, pistolas e espadas. Em terceiro ponto, não temos aqui a “princesinha em perigo” que sempre é salva pelo herói, mas sim uma mulher de personalidade fortíssima com alto teor de orgulho, o que às vezes a faz embarcar em perigo atrás de perigo. Sua aparência nem um pouco atraente – magricela, cabelo curto estilo Chanel, roupas que lembram trajes piratas – deixa ainda mais claro que V. E. Schwab não quer uma donzela, ela quer uma Lila, a qual muitas vezes chega a ser confundida com um homem por seus trejeitos.

Lila Bard por @victoriaying (minha arte favorita!)

A química entre ambos personagens é muito boa e divertida. Confesso que muitas vezes quis pular para capítulos onde eu sabia que os dois estariam juntos. Deixando bem claro de agora que não, não são um “casal” propriamente dito. São mais para algo, e o pronominal indefinito dá conta do significado por si só. A amizade e a vontade de ajudar – tanto um ao outro quanto também à própria pele – deixa a relação ainda mais deliciosa de ser lida.

O enredo, o qual nos traz altas viagens pelas Londres, além de muita ação e morte, coisa que eu não esperava do livro, já que o mesmo possui características bem parecidas com a dos YA’s. Definitivamente, não é toda criança de 13 anos que vai curtir a leitura. A história aprofunda-se muito na questão da magia, da mesma pura e vívida, como se a magia fosse várias raízes, e as consequências dela virassem frutos, árvores, etc. Há um teor místico quase religioso em relação aos poderes, a como os universos lidam com o poder que lhes fora atribuído. Gostei bastante disso.

Também tive apreço pela ambientação, a qual é totalmente ligada a épocas medievais, com reis, rainhas, castelos e vilarejos, e da narrativa da autora. Como já se há uma experiência no ramo, são raras as pontas soltas que Schwar deixa, apenas as necessárias para um segundo livro, que já está por ai pelos Estados Unidos à fora, menos aqui no Brasil L. Tem como título A Gathering of Shadows (na minha tradução de inglês básico ficou “Um encontro de Sombras”). De acordo com algumas fontes, a previsão para a chegada brasileira do livro está por entre meados de maio de 2017. Um terceiro livro também anda sendo muito comentado por ai, mas como ainda não li informações oficiais sobre o mesmo, deixarei para trazer essa notícia caso ela realmente seja confirmada. Por como o primeiro livro acaba, a ansiedade de começar o segundo já está me deixando louca desde já!

Somente alguns pontos os quais se estudados, em minha opinião, não dão a Um Tom uma nota 10. Para mim, a história demorou demais para ser iniciada de fato. Com certeza com um capítulo a menos, a mensagem conseguiria ser passada e todos entenderiam o que a premissa, mesmo um pouco mais curta, iria transmitir. Quando estamos no meio do livro, é notório que o mesmo já ganha um ritmo mais acelerado, o que me fez querer que houvesse, pelo menos, 10 páginas a mais no fim. Achei a “batalha final” fácil demais de ser derrotada, mediante à fama dos vilões (não os revelarei, não se preocupem) e eu também esperava por melhores explicações para os acontecimentos que se sucederam e os que ficaram para trás. Um personagem em particular, Holland, também um Antari, o qual é dono de um passado peculiar e cheio de mistérios,  foi-se construído de maneira rasa, com motivos não tão convincentes e participação daquele tipo “mais do mesmo”, e o seu desfecho.... Um legalzinho virado para baixo com certeza.


Um Tom Mais Escuro de Magia foge dos padrões YA’s da distopia do mundo em que já estamos cansados de ver. Com muita profundidade e ação, foi com certeza uma leitura de literatura fantástica que ficou gravada em meu coração. 

YA é uma sigla bastante usada no meio literário. É a abreviação de Young Adults, que nada mais seria a classificação infanto-juvenil aqui no Brasil.

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