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sábado, 7 de janeiro de 2017

Essa história de ter pressa

Fonte: Ana Clara Medeiros. P.S: o modelo também foi por minha conta. 
Mais difícil do que ver enterro de anão (já dizia meu pai) é convencer um ansioso - muito transtornado, por sinal - de que não se deve ter pressa. Quiçá a chatice de não ter ninguém que te entende, porque achar alguém igualzinho a você só reflexo de espelho mesmo e olhe lá, ainda ter de escutar esse papo furado de que "é tudo coisa da sua cabeça". Nervos surtam real!

Por exemplo: são exatas 2h09m da manhã enquanto eu redijo qualquer coisa que seja este texto porque minha mente e meu coração estão a mil. Não sei se com você, leitor, é assim, mas comigo... É como se eu sentisse cada pontinha do meu corpo exercendo sua função, desde o dedo formigando ao bater na tecla até os pensamentos caminhando pelos neurônios. Sinto o coração pulsar batida por batida, o fino barulho do nado do sangue, etc. É pior do que bloco de carnaval na frente da sua casa, juro! Imagine o single do verão em volume máximo dentro da sua cachola e já não queira mais imaginar. Como aquietar essa confusão toda é de perto a maior dúvida dos psicólogos, pesquisadores, eu e outros como eu. No meu caso em particular, escrever ajuda bastante a acalmar, e daí me vem a onda de tentar ser uma Clarice, cheia de epifania para dar e vender em timeline de facebook e tumblr. A questão é que quando não estou me movendo, estou me movendo. Insônia, stress, vontade de gritar o mundo inteiro dentre outros sintomas típicos de uma ariana nata. Todo ariano deve ter um Q de ansioso. Papo para outro texto, sigamos.

Engraçado é que mesmo tendo tudo isso dentro do peito, eu não consigo me sentir viva na maioria das vezes. Sabe viva? Já parou para pensar o que é essa tal de vida que você tem a chance de viver? Essa coisinha que no teu dia a dia parece ser chata, parece estar ruim, parece ser um paraíso. Isso ai de quase todo mundo se arrepender de mil ou nenhuma coisas, além de reclamar em demasia. Pra quê pensar nisso? Eu cantarolava nos meus 10 anos, em que toda a minha preocupação se resumia a NX Zero e boas doses de brincadeiras de rua. Não sei se é pela falta de vento no rosto - falando nisso, até comecei a correr e a colocar a cabeça para fora da janela do ônibus, mesmo quando reclamam - ou se pelo fato de que agora tenho essa idade que todo muito parece querer ter, e praticamente tudo se joga em cima dos seus ombros sem dó nem piedade, desde emprego, faculdade, família, amor, dentre outras da fase chata de se estar finalmente virando gente. No fim das contas, tem vezes em que me belisco para ter a certeza de que estou mesmo ali naquele meio, vivinha da Silva respirando pelos pulmões asmáticos que Deus me deu. 

Isso me deprime.

Porque eu pareço ser muito diferente de todo mundo, pareço querer aproveitar tudo mais devagar e intensamente de um jeito quase insano, diria até fatal. Quem quer lá morrer tão jovem? Quem quer lá essa história de morrer? Mas do que adianta ter medo da morte se você é um zumbi ambulante? Talvez eu precise realmente voltar para o psicólogo e descobrir se isso é distúrbio da minha mente ou somente falta de vitaminas.

No meio disso tudo, eu passo a querer ser rápida. Não tanto como o Flash, porém o suficiente para ver se consigo - quando consigo - viver tudo o que quero. Ué, parece que foi ontem que Pela Última Vez resumia todo um romance adolescente com o cabeça grande da 6ª série e do nada eu já preciso de um emprego? Infância de interior foi feliz e tal, contudo eu não estava lá muito preocupada em registrar pesadamente - quase feito tatuagem na pele - as coisas que vivi. Voltar no tempo pode? Ralar o joelho mais umas 30 vezes então? Correr contra o tempo enquanto eu não me entendo também me deprime. Na verdade, me deixa bastante confusa.

E este texto não será nem tanto como uma declaração de amor ou coisa do tipo. A esmo, nem sei como cheguei aqui, nesse quase meio de parágrafo tentando desabafar algo sobre mim que nem entendo direito. Hoje mesmo voltei com minha mania chata de andar com o bloquinho detonado do Star Wars por ai anotando passo por passo de como seriam meus dias seguintes, semanas seguintes. Me preparar psicologicamente para entrar de cabeça em tudo o que vou fazer, me dedicando a cada ponto. Você ri de mim, como sempre, me segura pelos ombros e vem com o papo "vamos com calma" e "deixa tudo pra amanhã que no dia certo as coisas acontecem". Você cantarola músicas que seu pai te apresentou, toca com delicadeza as maçãs do meu rosto e parece que estou a ponto de ter uma parada cardíaca. Tudo para. Tudo para para girar em torno da sensação de estar, quem diria, amando alguém como nunca mais achei que fosse amar de novo. Parece até que estou viva viva mesmo, sem precisar de belisco.

Dizer que não há mais motivos para ter pressa seria equivocado demais. Quando muito, estarei sempre olhando para o relógio e dando umas puxadinhas na pele do meu próprio braço.

Mas você terá esse olhar sobre mim.

E isso foi o suficiente para aquietar meus dedos, meu coração e minha alma.

Até a próxima crise, é claro.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Magia, medievalismo e Lila Bard



Arte da capa americana. Fonte: Google
Um Tom Mais Escuro de Magia pertence à mente de V. E. Schwab, a qual não é pioneira quando se trata de escrever sobre fantasia. Venceu diversos prêmios em 2013 e 2014 com suas outras obras, além de ser muito elogiada por autores best-sellers do New York Times. Sua mais nova aposta no ramo da literatura fantástica veio para as terras brasileiras em meados de 2016, mais precisamente em agosto. Conquistou muitos fãs fora e dentro do Brasil, não em uma escala Harry Potter, mas sim um espaço caloroso no coração dos leitores, os quais se mostraram bastante satisfeitos. Em pequenas pesquisas feitas por mim em alguns blogs de literatura, as críticas são, em sua maioria, positivas. Gabriella, – maravilhosa! – a ponte que me ligou às 418 páginas desse livro, também não poupou elogios, além de tentar me deixar a par desse universo da literatura mais mágica, o qual confesso não ter tanta familiaridade.

O enredo já é audacioso e intrigante logo de cara: imaginem vários universos paralelos. Em cada universo desses, existe uma versão de Londres. Em Um Tom, a trama concentra-se em quatro: Londres Vermelha (a magia aqui pulsa com alegria e controle), Londres Cinza (há pequeninos resquícios de magia, mas o lugar, assim como o próprio nome, tornou-se fraco e sem vida. Na minha opinião, a Londres Cinza representa a Londres que nós conhecemos inserida naquela época), Londres Branca (a magia tomou posse de tudo e todos, transformando o lugar, o deixando poderoso, mas temido e hostil) e Londres Preta, a qual não existe mais. Em meio a tudo isso, deixando de lado alguns detalhes para que sua leitura seja o mais surpreendente possível, temos Kell.

Kell não é simplesmente um ser mágico comum. Ele é um Antari, que em explicação básica é alguém com um controle de magia e equilíbrio muito maior do que os outros, nascido com o propósito de “servir” ao rei e rainha de sua Londres em algumas tarefas que somente ele consegue executar. A personalidade deste vai sendo moldada de acordo com a narrativa, o que eu gostei deveras. Por dedução, se Kell é alguém que se destaca dos demais, poderíamos ter uma personalidade egocêntrica e muito chata aqui, o que é o contrário. Suas motivações e anseios o fazem ser humilde e compassivo, e tudo isso vai crescendo e transcendendo com o andamento das páginas.

A história começa a tomar forma quando Kell faz algo que não devia, deixando todas as Londres em grande perigo. Um artefato com magia negra e pulsante conseguiu viajar de um universo para o outro, o que é praticamente fatal e proibido. A carreira solo de herói do nosso Antari não é bem sucedida graças a entrada de uma personagem. Ou melhor, a personagem: Delilah “Lila” Bard.
Minha queda por personalidades femininas fortes pode ter ajudado altamente em meu julgamento da obra, contudo, é impossível ignorar a existência e importância de Lila à trama. Primeiramente, ela se encaixa – ao se encontrar com Kell – como protagonista também. Segundo, em vez de ser poderosíssima e cheia de magia para esbanjar por ai, a ladra “moleca” de rua não usufrui de nada disso, somente de sua astúcia, ironia, inteligência e ótima habilidade com facas, pistolas e espadas. Em terceiro ponto, não temos aqui a “princesinha em perigo” que sempre é salva pelo herói, mas sim uma mulher de personalidade fortíssima com alto teor de orgulho, o que às vezes a faz embarcar em perigo atrás de perigo. Sua aparência nem um pouco atraente – magricela, cabelo curto estilo Chanel, roupas que lembram trajes piratas – deixa ainda mais claro que V. E. Schwab não quer uma donzela, ela quer uma Lila, a qual muitas vezes chega a ser confundida com um homem por seus trejeitos.

Lila Bard por @victoriaying (minha arte favorita!)

A química entre ambos personagens é muito boa e divertida. Confesso que muitas vezes quis pular para capítulos onde eu sabia que os dois estariam juntos. Deixando bem claro de agora que não, não são um “casal” propriamente dito. São mais para algo, e o pronominal indefinito dá conta do significado por si só. A amizade e a vontade de ajudar – tanto um ao outro quanto também à própria pele – deixa a relação ainda mais deliciosa de ser lida.

O enredo, o qual nos traz altas viagens pelas Londres, além de muita ação e morte, coisa que eu não esperava do livro, já que o mesmo possui características bem parecidas com a dos YA’s. Definitivamente, não é toda criança de 13 anos que vai curtir a leitura. A história aprofunda-se muito na questão da magia, da mesma pura e vívida, como se a magia fosse várias raízes, e as consequências dela virassem frutos, árvores, etc. Há um teor místico quase religioso em relação aos poderes, a como os universos lidam com o poder que lhes fora atribuído. Gostei bastante disso.

Também tive apreço pela ambientação, a qual é totalmente ligada a épocas medievais, com reis, rainhas, castelos e vilarejos, e da narrativa da autora. Como já se há uma experiência no ramo, são raras as pontas soltas que Schwar deixa, apenas as necessárias para um segundo livro, que já está por ai pelos Estados Unidos à fora, menos aqui no Brasil L. Tem como título A Gathering of Shadows (na minha tradução de inglês básico ficou “Um encontro de Sombras”). De acordo com algumas fontes, a previsão para a chegada brasileira do livro está por entre meados de maio de 2017. Um terceiro livro também anda sendo muito comentado por ai, mas como ainda não li informações oficiais sobre o mesmo, deixarei para trazer essa notícia caso ela realmente seja confirmada. Por como o primeiro livro acaba, a ansiedade de começar o segundo já está me deixando louca desde já!

Somente alguns pontos os quais se estudados, em minha opinião, não dão a Um Tom uma nota 10. Para mim, a história demorou demais para ser iniciada de fato. Com certeza com um capítulo a menos, a mensagem conseguiria ser passada e todos entenderiam o que a premissa, mesmo um pouco mais curta, iria transmitir. Quando estamos no meio do livro, é notório que o mesmo já ganha um ritmo mais acelerado, o que me fez querer que houvesse, pelo menos, 10 páginas a mais no fim. Achei a “batalha final” fácil demais de ser derrotada, mediante à fama dos vilões (não os revelarei, não se preocupem) e eu também esperava por melhores explicações para os acontecimentos que se sucederam e os que ficaram para trás. Um personagem em particular, Holland, também um Antari, o qual é dono de um passado peculiar e cheio de mistérios,  foi-se construído de maneira rasa, com motivos não tão convincentes e participação daquele tipo “mais do mesmo”, e o seu desfecho.... Um legalzinho virado para baixo com certeza.


Um Tom Mais Escuro de Magia foge dos padrões YA’s da distopia do mundo em que já estamos cansados de ver. Com muita profundidade e ação, foi com certeza uma leitura de literatura fantástica que ficou gravada em meu coração. 

YA é uma sigla bastante usada no meio literário. É a abreviação de Young Adults, que nada mais seria a classificação infanto-juvenil aqui no Brasil.